TEIXEIRA, Anísio Espínola
Diretor Geral de Instrução Pública Municipal / Diretor do Departamento de Educação / Secretário Geral de Educação e Cultura

O grande educador e principal figura do movimento político pedagógico da Escola Nova, Anísio Spínola Teixeira nasceu na cidade de Caetité, na Bahia, em 12/07/1900. Já na primeira infância, Teixeira tem contato com a pedagogia através de sua mãe, Anna Spínola Teixeira, a quem esteve sob cuidados nos primeiros anos, e de seu pai, o médico e fazendeiro Deocleciano Pires Teixeira, fundador da escola normal e complementar da cidade. Casou-se em 1932 com Emília Teixeira, com quem passou toda a vida e teve quatro filhos.

Sua prévia experiência como Inspetor Geral de Educação na Bahia, quando esteve à frente do movimento modernizador e de ampliação do sistema de ensino de seu estado natal, aguçou seus interesses pela área. Estes foram favorecidos posteriormente por suas incursões nos estudos educacionais empreendidos por seus pares na Europa e nos EUA. De volta ao Brasil, se instalou diretamente no Rio de Janeiro e, na esteira das reformas do ex- Diretor Geral de Instrução Pública Municipal Fernando de Azevedo, recebeu, em 1931, nomeação do Interventor do Distrito Federal Pedro Ernesto (1931-1934) para dar continuidade à empreitada de seu antecessor na Diretoria, inaugurando um período de intensas mudanças no cenário educacional carioca.

A Reforma educacional se iniciou no interior da própria Diretoria de Instrução Pública, que passou por profunda remodelação administrativa. Ocorreu uma alteração no paradigma sob o qual o órgão funcionava, tornando-se uma de suas prerrogativas não só a organização e administração do aparelho escolar carioca, mas também a assistência à categoria docente e a definição da orientação da política educacional a ser implementada. Esta postura se deu a partir das diretrizes do “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” (1932), do qual Teixeira foi um dos signatários. O documento advogava por uma democratização do ensino, considerando que este deveria ser público, gratuito, obrigatório, laico e sem distinção biológica, classista ou de crença, de forma a propiciar o desenvolvimento da autonomia entre os discentes e de prepará-los para a vida social. A reivindicação da laicidade do ensino público constituiu, em particular, uma das celeumas mais contundentes deste período, com Alceu de Amoroso Lima à frente da fração conservadora carioca.     

Para a concretização destes ideais, Anísio Teixeira, tal como relata no “O Systema Escolar do Rio de Janeiro (D.F.): Relatorio de um anno de administração” (1932),  se viu confrontado com dois principais problemas: a tímida abrangência da rede pública do Rio de Janeiro, incapaz de atender a todas as crianças do Distrito Federal, e o grande número de evasões. Para tanto, buscou expandir a rede de escolas da cidade ao construir novos prédios e reformar os antigos, obras estas financiadas pelo fundo escolar anteriormente criado. Novas disciplinas foram incorporadas à grade curricular, como o canto coral e educação física, debruçando-se ademais sobre questões adjacentes, tal qual a assistência médica dos alunos. Igualmente foi implementado nas escolas o sistema de testes, seguindo a cartilha do educador estadunidense John Dewey, cujas obras foram vertidas para a língua portuguesa pelo próprio Teixeira.

Enquanto Diretor Geral de Instrução Pública do Distrito Federal, no correr de seu primeiro ano no exercício da pasta, Anísio Teixeira elaborou minucioso balanço  das reformas antecessoras a sua posse, bem como suas reflexões advindas deste. Um dos grandes projetos concebidos pelo educador concernia nas disposições do ensino secundário geral e profissional, consoante ao seu ideal de uma educação centrada no indivíduo e em suas necessidades, e capaz de oferecer as condições para a mais perfeita realização de suas potencialidades. O estudo completo encontra-se n’O Systema Escolar do Rio de Janeiro (D.F.): Relatorio de um anno de administração.

Para atender este novo número de alunos que havia crescido exponencialmente, foram também criadas instituições de formação docente. A antiga escola normal foi ampliada e transformada no Instituto de Educação, estando à frente da cadeira de Filosofia da Educação. É, contudo, a criação da Universidade do Distrito Federal (UDF) a mais ousada das medidas de sua gestão. Reunindo cinco faculdades (Ciências, Educação, Economia e Direito, Filosofia, e Instituto de Artes), foi pioneira no país ao  focar sua atenção na formação de professores e em oferecer diversas disciplinas antes ausentes do ensino superior brasileiro. Dentre seus quadros docentes, destacam-se nomes como os de Cecília Meireles, Lúcio Costa, Heitor Villa Lobos, Cândido Portinari e outros.

Mesmo não filiado diretamente à ANL, após o levante de 1935 setores conservadores da capital carioca encamparam uma campanha pela saída de Teixeira. Vendo-se impossibilitado de continuar no cargo, o educador pediu demissão neste mesmo ano, sendo acompanhado solidariamente por diversos de seus subordinados, como Pedro Mattos e Afrânio Peixoto. O prefeito Pedro Ernesto se viu obrigado a substituí-lo por Francisco Campos, cuja gestão é marcada pela tentativa de desmantelamento do legado de Teixeira e, em especial, de sua principal obra, a Universidade do Distrito Federal.

A exoneração não pôs fim à trajetória do educador, que ganhou projeção nacional a partir das suas realizações na capital. Após um período afastado da vida pública pela instauração do Estado Novo, empreendeu diversas atividades durante o intervalo democrático aberto no país em 1945. No ano seguinte, foi escolhido para a cátedra de Conselheiro de Educação Superior da recém-criada UNESCO. Seu imenso prestígio nos assuntos educacionais lhe rendeu outros três convites de peso: A chefia do Secretariado-Geral da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (1951), a direção concomitante do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), além da reformulação do programa educacional da Organização dos Estados Americanos (OEA). Um dos idealizadores da Universidade de Brasília (UnB), era o seu reitor quando foi afastado pelo Golpe Civil-Militar de 1964.

Assim como sua vida, sua morte foi cercada de polêmicas. Em 11/03/1971, o educador desapareceu na cidade do Rio de Janeiro. Sob os boatos de que havia sido detido por forças militares da Aeronáutica, foi encontrado dois dias depois no fosso do elevador. Diversos relatos de legistas e de médicos que participaram de sua autópsia levantaram à possibilidade de Anísio Teixeira ter sido assassinado e então colocado no local. Todavia, no auge dos anos de chumbo, a versão não foi considerada pela polícia, que manteve a retórica de um simples acidente como causa mortis. Seu sepultamento se deu em 14/03/1971, no cemitério São João Batista.

 

Para maiores informações, ver:


TEIXEIRA, Anísio Espinola. Verbete/FGV-CPDOC. Disponível em:
<http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/anisio-espinola-teixeira> Acessado em 21/03/2018.

 

Amanda Vilela

Caio Mathias

Fontes

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